23 de mai. de 2010

Viagem pelas costas do mundo


" A casa de Isla Negra, da parede de vidro para o mar"

"Comecei a viver em tantos lugares e em tantas horas diferentes da nossa época, que não sei por onde começar: se pelo grande ou pelo pequeno, pelo de dentro ou pelo de fora, se pelo casaco ou pelo coração.
Tudo vai fundido dentro da gente, fora da gente, as vidas e os nascimentos, fazendo um círculo de folhas, de lágrimas, de conhecimento, de lembranças. E a vida de um homem é como a existência de um dia: a poeira treme à passagem da luz central, a vegetação acumula o seu misterioso alimento feito de atmosfera e de profundidade, passam cantos de crianças, de bêbados, de coveiros, soam as cozinhas do mundo, transportam os feridos pelo mar, por intermináveis trens, as máquinas de escrever, as prensas, os motores vão se fundindo num crepúsculo de onde o dia vai desaparecendo, como um pequeno ciclista num longo caminho, e não fica senão a noite permanente, as infinitas estrelas, a solidão imensa" (...)
Hum, poder respirar! Divino, não? Condição de imaginários para podermos acreditar e absorver as diversidades das pessoas, das culturas, deste ambiente que tanto queremos abraçar e proteger. Protegeremos, senhores as novas gerações e as emoções do poeta.
Para sempre Pablo Neruda

Desconfio que as tartarugas carreguem uma saudade nas costas. Uma saudade capaz de imprimir rugas com o tempo. Se é verdade verdadeira, eu não sei. Mas também não sabem aqueles que dizem que as tartarugas são répteis e que os répteis têm sangue frio. Aquele casco-capacete nas costas, todo desenhado, um desenho para cada ano de vida, só pode ser as marcas de uma saudade. Só quem pode sentir no couro uma saudade é capaz de desenhar assim. De saber que a ruga é também um desenho. E tem o charme, a lerdeza, o jeito devagar quase parando delas, que só podem vir de uma saudade. Em terra, esses répteis são monges zens levando a vida em câmara lenta para viverem muitos séculos. Mas curtem a rapidez também. No mar são rápidos como um raio. E tem aquele pescoção comprido, aquela cabeça careca, que só podem ser de uma saudade enorme. Será que as tartarugas têm saudades dos dinossauros?